Dizem que futebol é como uma religião. E as similaridades são gigantes mesmo, não dá para negar. Tem coisas que a paixão por um clube, jamais podem ser explicadas num texto ou algo físico. É além disso. É algo que não aparece, algo que apenas se sente.
Naquele dia 26 de novembro de 2005, estive em outro planeta por 71 segundos, ou um pouco mais. Naquela tarde de sol, num barzinho na avenida Goethe, em Porto Alegre, algo que vai além de qualquer explicação aconteceu.
Durante o calvário ano de 2005, nós, gremistas, estivemos sempre presentes, num apoio incondicional, para ajudar o clube a voltar ao seu verdadeiro lugar. Depois de uma campanha muito boa, fomos para o último jogo precisando apenas empatar. Mas a gente não sabia que não seria apenas mais um jogo.
O jogo começa tenso, nervoso, complicado, escondendo um verdadeiro teste para cardíaco. Um verdadeiro passeio num mundo muito louco de emoções extremas. Um pênalti aos 27 minutos do segundo me levou a um lugar que até hoje não consegui entender. Ali, meus amigos e eu, já sob efeito do álcool, fomos tomados de uma aflição extrema, um verdadeiro terror psicológico. Durante a confusão generalizada em campo, nas nossas lágrimas de desespero, era possível ver os reflexos dos cartões vermelhos sendo distribuídos para nossos jogadores. Nesse momento iniciei a ida para um lugar que até hoje não sei onde fica.
A partida tinha que ser reiniciada, o pênalti teria que ser batido. O momento chegou. Lágrimas, desespero e muita emoção tomaram conta daquele bar. Imortais já não acreditavam numa reversão, gremistas indo embora e o fim estava próximo. De canto de olho, vi Ademar indo para a cobrança e, ao limpar as lágrimas, vi o eterno Galatto defender a batida. Ali eu fui para outro plano.
Bêbado, rouco e louco, corro entre outros, naquela rua tomada de azul, numa mistura de êxtase extremo e uma felicidade ímpar. Abraçando desconhecidos, chorando com pessoas vestindo azul e gritando como um louco. Ao tentar voltar ao meu mundo, volto para o bar e vejo aquele moleque, de cabelos Bob Marley, entrando área adentro, e com um leve toque, fez meu mundo sumir novamente.
Loucura, delírio, insanidade, confusão mental e coisas afins tomaram conta de mim e daqueles aficionados torcedores, num abraço coletivo, umedecido por lágrimas sofridas e apaixonadas. O mundo parou. Não existia ninguém diferente, apenas imortais no ápice da felicidade, vibrando por algo tão surreal. Era um plano que até hoje não sei, um plano que estive durante 71 segundos ou mais.
Dessa história, a mais emocionante da minha vida, o que consigo lembrar são meus amigos e eu, bêbados, roucos e loucos, no Casa de Praia, quase na manhã seguinte, cantando as músicas do imortal tricolor. Eu acho que nunca vou saber onde é esse lugar que estive, mas posso afirmar que foi o lugar mais feliz que já estive.
Pablo Vidigal – Cruz Alta – RS