Em 1983, eram outros tempos. Em 1983, nada era tranquilo. Não havia transmissão de TV em todos os jogos, não havia VAR, nem beijo de casais no telão do estádio. Em 1983, era chuteira preta, cerveja, radinho de pilha, barro e pressão.

Em 1983 havia também o Olímpico Monumental. E havia Mazaropi.

Não tinha semifinal. Grêmio e América de Cali se encontraram na terceira rodada de um triangular que apontava um dos finalistas. Grêmio havia vencido Estudiantes em casa e perdido para o próprio América de Cali fora. Precisava ganhar.

Inverno rigoroso. O minuano cortava a pele. Chovia em Porto Alegre. Chovia muito. O jogo foi adiado da noite de terça-feira para quarta à tarde, dia 6 de julho. No velho casarão, 24 mil torcedores driblaram o trabalho para testemunhar um jogo chave para a classificação tricolor.

Grêmio abriu o marcador logo cedo com Caio. Tinha tudo para ser um jogo tranquilo. Mas o ano era 1983. Nada seria fácil. O empate veio no início do segundo tempo com gol de Bataglia. Em seguida, Osvaldo retoma a vantagem: 2 x 1.

Tudo encaminhado? Óbvio que não. Inflação, argentinos, frio, chuva, uruguaios, colombianos, ditadura, guerra das Malvinas.

Em 1983, nada era tranquilo.

Aos 23 minutos, uma bola cruzada atinge o braço e Baideck. Pênalti. Maldito pênalti. Sempre um pênalti.

Mas, como já foi dito, em 1983 havia embaixo das traves Geraldo Pereira de Matos Filho. Um mineiro, vindo do Vasco da Gama, inscrito de última hora (ainda bem!), predestinado, que atende pela alcunha de Mazaropi.

Ortiz pensa, hesita, parte para a cobrança do tiro livre, bate no lado direito, alto. Mazaropi vai com braço esquerdo e manda para escanteio. Espanta. Manda para longe. Aqui não. Hoje, não. Em 1983, não.

É aquela defesa que faz a torcida sonhar: esse ano vai ser nosso. Em 1983, sim. O lance é comemorado tal qual um gol. Mazaropi se vira para torcida, jogadores o cercam, o abraçam. Herói. O dia é dele. O dia é nosso. A América será nossa.

Veremos algo parecido 34 anos depois. (Alô, Grohe, alô Guayaquil).

O Grêmio respira. Ganha fôlego. O Grêmio renasce (Nascer = nato. Renascer = Renato). Mal sabíamos o quanto esse acúmulo seria fundamental 48 horas depois, na Batalha de La Plata. Mas isso é assunto para outra conversa.

Em 1983, nada era tranquilo.

Link dos melhores momentos narrados pelo saudoso Celestino Valenzuela:

Romeu Finato, Integrante do Grêmio do Prata
@romeufinato

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