Reza a lenda que no dia nove de setembro de 1962 forças celestiais visitaram a cidade de Guaporé, em busca de um menino que recém havia nascido na pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul. Como podemos imaginar, não se tratava de um menino qualquer, mas sim do filho do casal Francisco e Maria Portaluppi. Nesta mesma noite o menino foi abençoado com os seguintes dizeres: “Tu és Renato, o Portaluppi. Tua missão será alçar o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, o clube das três cores (tal qual a Santíssima Trindade) ao topo mais alto do planeta.”
Neste momento o destino do jovem Renato foi selado, assim como o de milhões de gremistas espalhados pelo mundo.
Renato, o jogador
Renato começou a caminhar em direção ao seu destino ainda jovem, em 1979, quando, com apenas 16 anos, já atuava pela equipe principal do Esportivo de Bento Gonçalves, cidade onde morava com seus pais.
O Esportivo era treinado por Valdir Espinosa, que no final da temporada foi contratado pelo Grêmio para atuar como auxiliar técnico do clube. Espinosa aceitou a proposta e solicitou que o clube da capital levasse, também, Renato.
Forças ocultas (vermelhas, para ser mais exato) tentaram impedir que o jovem Renato cumprisse sua missão. Seu pai torcia para o maior rival do Grêmio e não queria ver o filho com a camisa tricolor. Mas a relutância do senhor Francisco não foi suficiente para mudar o que já estava escrito: Renato precisaria seguir seu destino junto ao clube tricolor.
Alçado à equipe principal em 1982, Renato não demorou a cumprir sua missão. Já em 1983, sob comando do técnico Valdir Espinosa, o mesmo que havia solicitado sua contratação 4 anos antes, Renato foi um dos principais nomes da campanha que sagrou o Grêmio como o primeiro clube gaúcho campeão da Libertadores da América.
Entre jogos e batalhas, a genialidade de Renato foi colocada à prova na partida final, quando, aos 32 minutos do segundo tempo, em um espaço reduzido entre a linha lateral e 2 adversários, Renato fez o que seria impossível para todos, menos para ele. Com uma embaixadinha encontrou o espaço necessário para um cruzamento perfeito (invejosos dizem que foi balão, mas meu amigo, não acredite neles, foi simplesmente um dos cruzamentos mais lindos da história do futebol).
Dos pés de Renato, a bola carinhosamente encontrou a cabeça de César. Da cabeça de César, a bola encontrou o fundo do gol. Gol do título. Grêmio, campeão da Libertadores da América.
A profecia começava a ser cumprida, faltava pouco.
Renato, o homem-gol
Para iniciar este trecho sobre o homem-gol, nada melhor que relembrarmos as duas narrações mais importantes da história do Grêmio, na voz do grande Galvão Bueno:
“Renato, tem chance de partir pela direita, Tarciso corre lá pelo meio. Ele encara a marcação de Hieronymus que saiu na cobertura. Ainda o Renato, faz a finte, mais uma, bonito, direita, bateu… GOOOOOOOOOOOOOLLLLLLL! UM LINDO GOL DE RENATO!”
“Caio trazendo pela ponta esquerda. O cruzamento para a área. A chance, Renato. Agora! Pé esquerdo…GOOOOOOOOOOOOOLLLLLLL! RENATO DE NOVO! RENATO NÚMERO SETE!”
Naquele 11 de dezembro de 1983 Renato, encontrou seu destino e cumpriu sua missão. Com uma atuação histórica, o jovem Portaluppi conduziu o tricolor gaúcho ao lugar que é seu por direito, o topo do mundo.
Depois daquele jogo, as forças do mundo do futebol estavam em equilíbrio (não à toa, Renato utilizava a camisa de número 7, o número representativo da harmonia, resultante do equilíbrio estabelecido por elementos não semelhantes) e tanto Renato quanto o Grêmio estavam livres para trilhar, cada um o seu caminho. Será?
Renato seguiu no tricolor até se transferir para o Flamengo em 1987. Voltou a ter uma curta passagem pelo clube em 1991 e jogou um torneio amistoso em 1995, envolvendo todos os clubes brasileiros campeões mundiais até o momento (Grêmio, Santos Flamengo e São Paulo).
Com a mesma camisa 7, Renato atuou contra o Flamengo ao lado da dupla de ataque mais letal do futebol brasileiro naquela época: Paulo Nunes e Jardel. E foi em uma tabela com Paulo Nunes que Renato disparou pela ponta direita e para Jardel abrir o marcador.
Foram os últimos 45 minutos de Renato atuando com a camisa tricolor. O Grêmio venceu o jogo por 2×0, mas o resultado do jogo pouco importa se comparado à beleza da jogada envolvendo 3 dos maiores ídolos da história do clube.
Renato, o treinador
Mesmo após pendurar as chuteiras, os caminhos de Renato seguem encontrando o Grêmio, afinal, não é fácil fugir do nosso destino. E com Renato não seria diferente. Sendo assim, por três vezes nosso ídolo foi chamado para atuar como treinador do Grêmio e em todas as vezes, aceitou o chamado.
Em 2010, e 2012 tivemos boas campanhas no brasileirão, mas os títulos não vieram. Até que chegou o momento de uma nova história ser escrita, e chegamos ao ano de 2016 e à terceira passagem de Renato como treinador do Grêmio.
Era um período complicado para tricolor de Porto Alegre. Vivíamos uma seca de grandes títulos e, para piorar, seis anos antes nosso rival havia igualado a quantidade de títulos da Libertadores da América. Mais uma vez o mundo do futebol estava em desiquilíbrio. Era hora do retorno de Portaluppi ao tricolor.
Com poucas (mas pontuais) mudanças, Renato resgatou aquele o Grêmio de Copas. Enfileirou 2 na sequência: Copa do Brasil em 2016 e a Libertadores da América em 2017. Tudo estava em seu lugar. Mas Portaluppi queria mais e seguiu empilhando conquistas como Recopa Sul-Americana (2018), Campeonato Gaúcho (2018, 2019, 2020) e a Recopa Gaúcha (2019).
Renato, o Portaluppi
Seria muito simples finalizar este post apresentando a lista de títulos do Renato como jogador e treinador do Grêmio. Afinal, se tem uma coisa que não falta na carreira de Renato, são os títulos. Mas apenas listar estes (muitos) títulos não seria o bastante para dimensionar a importância do Renato para o Grêmio.
Como jogador, além de ser o principal responsável pela maior conquista da história do Grêmio, Renato também é o 20º maior artilheiro da história do clube com 75 gols marcados.
Como treinador, Renato nos tirou de uma incômoda fila de grandes conquistas que durava 15 anos, também tornou-se o técnico com mais títulos conquistados da história do Grêmio (ao lado de Felipão). Como se não fosse o bastante, atualmente é o 3º técnico que mais treinou o clube em sua história centanária, com 360 jogos (e contando…).
Seja dentro de campo ou na casamata, é fato afirmar que não há Grêmio sem Renato e não há Renato sem o Grêmio. Clube e jogador/treinador foram feitos um para o outro. Aliás, feliz é o torcedor gremista que tem um Renato Portaluppi para chamar de ídolo.
Parabéns Renato, ontem, hoje e sempre!
Leandro Webster, integrante do Grêmio do Prata
@leandrowebster