Todo gremista lembra com carinho do dia 30 de agosto de 1995. Pela segunda vez, a gente conquistava o título de uma das competições mais difíceis do mundo. O Grêmio Foot Ball Porto Alegrense se tornava bicampeão da Copa Libertadores da América. A indescritível felicidade de ser o melhor do continente tomou conta de gremistas mundo afora. Carros buzinando, bares lotados e foguetório adentraram à madrugada.

Todos queriam festejar, no entanto, havia as peculiaridades dos anos 1990. Ainda mais em uma pequena cidade de tradição germânica do interior gaúcho. E sabem como são os teutonienses. Disciplinados, sisudos e valorizam princípios. Além disso, não demonstram emoções. Um contexto intimidador para quem desejava “explodir” de alegria. Em especial, um guri de 9 anos.

O piá costumava usar o manto gremista em casa, na escola e no futebol de bairro. A tricolor estava presente até para comer bergamota. Por nada, tirava aquela camiseta. Era a mesma usada por seus ídolos que enxergava no jornal e na TV. Era o Grêmio peleador de 1995.

O guri já tinha comemorado tanto escutando rádio e assistindo as partidas na TV. Empunhar uma bandeira, sair gritando como um louco e comemorar nas ruas era algo impensável. Imagina participar de uma carreata. Era surreal. Assim como, ganhar novamente a Libertadores.

A partida recém havia terminado na Colômbia. Ele já tinha visto a emoção dos jogadores e da comissão técnica em frente a TV. Mas, faltava algo. Sorria ao escutar os foguetes na vila e os carros que passavam buzinando em frente à sua casa. Já os pais e vizinhos não eram muito afeitos a essa loucura. Estavam incrédulos.

O garoto sentia que algo surpreendente estava por acontecer. Quando menos esperava, um Santana de quatro portas estacionou junto ao portão. Era a prima acompanhada do namorado. Ela baixou o vidro e endereçou um convite tão rápido quanto o pique do Diabo Loiro: “Vem !! Vamos !!”.

O piá nem ouviu a ordem dos pais e saiu correndo em direção à felicidade. Era um sentimento muito forte para resistir. Somente deu tempo de pegar a bandeira no quarto e invadir o Santana. Ele baixou o vidro e gritava como se estivesse no Olímpico: “Grêeeeeemiooo, Grêeeeeeeemiooo, Grêeeeeemiooo. É campeãoooo, é campeãoooo”.

Aquela criança de 9 anos estava pronta para a primeira carreata da sua vida. O trajeto durou pouco mais de uma hora, contudo, parecia uma eternidade. Ele nunca tinha visto tantos carros andando em fila e camisetas tricolores nas ruas. Olhava para as estrelas e ficava maravilhado com os foguetes que estouravam durante o percurso. O garoto foi deixado no portão de casa e teve que enfrentar a desaprovação dos pais. Mas, a sua mente estava em outro plano. A primeira carreata da minha vida foi do tamanho da América.

Números e nomes da campanha

José Doval / Agencia RBS

A Copa Libertadores da América de 1995 foi disputada por 20 equipes como Emelec (EQU), Olímpia (PAR), Penharol (URU), River Plate (ARG) e Universidad Católica (CHI). A logística gremista passou por Equador, Paraguai, Brasil e Colômbia. A campanha do bicampeonato terminou com 8 vitórias, 4 empates e apenas 2 derrotas. Inclusive, tivemos o artilheiro da edição, com Jardel marcando 12 gols. O desempenho foi avassalador em nosso eterno Olímpico Monumental. A campanha ficou marcada por dois jogos épicos contra o Palmeiras, em especial, o 5 a 0 no Olímpico. A equipe paulista contava com o aporte de uma multinacional do segmento de laticínios e contava com jogadores renomados como Cafu, Roberto Carlos, Mancuso, Rivaldo e Müller.

Na final, o Grêmio enfrentou o Atlético Nacional da Colômbia. O primeiro jogo terminou com vitória tricolor por 3 a 1 em Porto Alegre. A segunda partida ocorreu no Estádio Atanásio Girardot, em Medellín. A equipe colombiana foi apoiada por 50 mil torcedores, inclusive, com um clima hostil antes do jogo. O Grêmio foi valente e empatou a partida em 1 a 1. Os colombianos abriram o placar logo no início do jogo com Ariztizábal. No segundo tempo, de pênalti, Dinho largou um petardo no meio do gol do goleiro “escorpião” Higuita. Igualdade no placar e terminou assim.

O Grêmio jogou com Danrlei, Arce, Rivarola, Adílson e Roger; Dinho, Goiano, Arílson, Carlos Miguel; Paulo Nunes e Jardel. O técnico era Luiz Felipe Scolari (Felipão). O presidente era o mito Fábio André Koff e o vice de futebol Luís Carlos Silveira Martins (Cacalo).

Éderson Moisés Käfer
Sócio arquibancada e integrante do Grêmio do Prata.

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