Já era praticamente dia 8 de dezembro quando o Grêmio sagrou-se, pela quinta vez, Campeão da Copa do Brasil, na Arena do Grêmio: a taça foi erguida precisamente à meia-noite.
As horas que antecederam àquele momento foram semelhantes para os Gremistas que foram à Arena. Havia sido uma loucura. Todas as certezas racionais se dissiparam, ao que parecia. Tínhamos, pela primeira vez em nossa nova casa, o Dr. Hélio Dourado. Antes dos noventa minutos do Grêmio mais identificado com o Grêmio dos últimos anos (coisa que eu diria mesmo sem a taça, registre-se), a Arena havia explodido, durante a entrada dos jogadores, em uma festa “olímpica”, que achávamos que nunca mais veríamos na Arena, e que literalmente me levou às lágrimas.
Na final, ar ficou turvo de papel picado. Cheiro de fogo no ar. Rugido da torcida. Concreto respirando debaixo dos nossos pés. A sensação era antiga, mas familiar.
Já as horas que sucederam àquele momento foram muito variadas para os Gremistas que foram na Arena, ao que parece. Minha esposa e eu ficamos na Arena por mais de uma hora, ainda, curtindo os acontecimentos no gramado e nas arquibancadas. Os Gremistas espalharam-se pela cidade, para que ela não dormisse. Um destes quase 56 mil gremistas, o nosso amigo Zé Roberto, entre outras coisas, fez o seguinte:
“ Obrigado por tudo velho casarão… Somos pentacampeões da Copa do Brasil. Descanse em paz. ”
Fiquei em silêncio uns bons minutos depois de ler. “Descanse em paz”.
O dia já havia sido uma montanha russa doida de emoções, e de repente o Zé foi até o Olímpico Monumental para, finalmente, se despedir. No Olímpico, onde minha esposa e eu nos casamos. Justo no dia que o Grêmio foi campeão. Justo no dia que o Dr. Hélio Dourado, um homem cuja história se confunde com a do Grêmio e a do Olímpico, foi pela primeira vez à nossa nova casa.
De repente alguma coisa quebrou um pouquinho por dentro, mas ao mesmo tempo tudo fez sentido de um jeito estranho. O Zé estava certo, está certo.
O Olímpico estava em silêncio, no escuro, no dia de nossa festa, que aguardáramos por anos. Em sinal de despedida, fiquei um pouquinho em silêncio e no escuro, olhando as fotos que o Zé tirara. Era hora de dizer adeus. Mas não por causa do título, não pelas horas que sucederam àquele momento, e sim pelas horas que antecederam àquele momento na Arena. Já no dia 2 de novembro, na semifinal contra o Cruzeiro, minha esposa havia se virado para mim e dito:
– Sente o concreto tremendo de novo?
Na final, ar ficou turvo de papel picado. Cheiro de fogo no ar. Rugido da torcida. Concreto respirando debaixo dos nossos pés. A sensação era antiga, mas familiar.
O espírito do Olímpico encarnou na Arena naquele momento.
Fernando D’Andrea