Era um Domingo, dia 24 de julho de 1994. Eu estava com meus pais e com meu irmão, passando as férias de inverno, em São Pedro do Sul, interior do Rio Grande do Sul, na casa dos meus avós. Depois do almoço, meu pai voltou-se pra mim e disse: “Se o Grêmio não perder, hoje, no Rio, vamos para Porto Alegre assistir ao segundo jogo”. Ele se referia ao primeiro embate da semi final da Copa do Brasil de 1994 contra o forte Vasco da Gama, no Maracanã, comandado por Sebastião Lazaroni e que, no seu time titular, tinham craques como o goleiro Carlos Germano e jogadores de linha como Ricardo Rocha, como Yan, como Jardel e como Valdir “bigode”. Ansiosamente, torci e escutei a partida, por um radinho de pilhas da minha vó. À época, nem se sonhava com TV a cabo. Final de jogo. O placar foi 0x0 e, com isso, iríamos a Porto Alegre.
Por excesso de chuva, o jogo que fora, inicialmente, marcado para o dia 31 de julho, domingo, foi transferido para o dia 3 de agosto, quarta-feira. A noite era fria e lembro, claramente, como fosse hoje, os dois tentos anotados pelo centroavante Paraense Nildo. No segundo, fui tomado por uma forte emoção a qual me causou um mal estar na cabeça. No final da partida, Pimentel ainda descontou para o time carioca. O árbitro Márcio Rezende de Freitas encerrou a partida 2×1 para o Grêmio. Estávamos na final contra o forte Ceará que, ao longo da sua jornada, já tinha deixado para trás o Palmeiras/SP e o inter/RS.
O primeiro jogo da final foi realizado, em Fortaleza, reduto alvinegro, dia 7 de agosto, domingo, com um dos maiores públicos já registrados no Castelão. Após 90 minutos, o time comandado pelo gringo Luis Felipe Scolari suportou a intensa pressão do time nordestino e levou a decisão para o jogo de volta em Porto Alegre. Qualquer vitória simples lograria o time Gaúcho Bicampeão da Copa do Brasil.
Após eliminar, fase a fase, adversários copeiros e fortes como o Criciúma/SC, como o Corinthians/SP, como o Vitória/BA, eis que chegou o grande dia. A grande finalíssima. Dia 10 de agosto de 1994. Quarta-feira. Quase 50 mil eufóricos torcedores Gremistas fizeram-se presentes no estádio Olímpico Monumental, para apoiar, incondicionalmente, o Tricolor da Azenha. Eu estava lá. Acompanhado por meu maior mentor GREMISTA: meu pai. Além dele, estavam comigo primos que vieram do interior e amigos. Ficamos posicionados na arquibancada geral, exatamente, atrás da goleira defendida pelo experiente goleiro Chico, do Ceará, no primeiro tempo. Goleira que, antes dos 5 minutos iniciais, viria a entrar para os anais do clube, com o gol consagrador daquele que foi um dos expoentes do time Tricolor, durante toda a campanha: Nildo. Foi uma loucura. Ensurdecedor o cântico de apoio da massa azul. A mesma sensação de tontura que senti naquele segundo gol contra o Vasco, voltei a sentir, dessa vez, antes mesmo do início da partida, tal era o clima e a energia que a torcida Gremista carregava para dentro de campo.
O Grêmio começou o jogo avassalador, empurrado pela sua torcida, sem dar espaços ou chances para o time cearense sequer respirar. Uma pressão poucas vezes vista no grande palco culminou no gol único, ímpar, avulso; suficiente, entretanto, para nos levar ao Bicampeonato – de forma invicta (1989/1994) – da Copa do Brasil. Logo aos 3 minutos da primeira etapa, após reiterados escanteios, Carlos Miguel alçou a bola, no primeiro pau, dentro da pequena área, e, como um míssil, Nildo golpeou-a com a cabeça, sem chances para o arqueiro adversário.
Liderados à beira do campo, pelo jóquei Gremista Scolari, o time base do Grêmio que tinha Danrlei; Ayupe, Paulão, Agnaldo e Róger; Pingo, Jamir, Émerson e Carlos Miguel; Fabinho e Nildo, entre ataques e contra ataques, suportou a pressão do time alvinegro e, perante a sua fiel e inigualável torcida, ergueu mais uma vez a taça.
O tempo implacável passou e, há 9 anos, sem decidir um campeonato de expressão, hoje, estamos às vésperas da grande finalíssima. A oitava final do time Gaúcho nessa Copa. Desta vez, ineditamente, contra o respeitado e tradicional Atlético-MG, comandado por jogadores experientes selecionáveis. O desejo, não só do clube, todavia de toda a torcida imortal, é sagrar-se Penta Campeão do Brasil, é retomar a hegemonia no futebol nacional e, com força, garra e bravura, é voltar ao topo do mundo. Os dias 23 e 30 de Novembro de 2016 jamais serão esquecidos. Aquele, por ser o jogo de ida, na capital mineira, e o aniversário de 77 anos daquele que me levou e vibrou comigo nas finais de 1989, de 1994 e de muitas outras. Dia 30 entrará para a história do Grêmio, não só por ser o segundo e decisivo jogo da final; como o dia, entretanto, em que mais de 50 mil torcedores apaixonados, numa só voz, abraçarão os jogadores e toda a comissão técnica naquela que será a primeira de muitas voltas olímpicas que o Grêmio carimbará na sua gloriosa história dentro da Arena.
Cristiano Zucco
GRÊMIO! GRÊMIO! GRÊMIO!