A data de 05 de Maio de 1838 é uma das mais expressivas para o povo Gaúcho até hoje. Neste dia foi executado pela primeira vez o Hino Rio-Grandense, anteriormente conhecido pelo nome de: Hino da República, Hino Nacional ou Hino Farroupilha.
Com exceção deste primeiro hino, que foi sobre uma valsa do velho Strauss, mudando o ritmo¹, a melodia do Hino se mantém praticamente a mesma desde os primórdios. O que ocorreu com o passar do tempo foi uma alteração em sua letra.
Contemos então um pouco da história das letras de um Hino tão conhecido por todos os Gaúchos.
A primeira composição foi composta pelo capitão Serafim José de Alencastre, nela é exaltada a magnífica vitória em Rio Pardo, ocorrida poucos dias antes, mais precisamente no dia 30/04/1838. Eis a letra:
Salve o dia venturoso,
Risonho 30 de Abril,
Que os corações patrióticos,
Encheram de gozos mil
Porém, nem a letra, nem o ritmo foram de agrado dos Farrapos. Então nosso Hino foi refeito. E, um ano após a tomada de Rio Pardo, para celebrar a conquista, foi executado o novo Hino.
Este por sua vez, já com uma melodia quase idêntica a atual, foi novamente composta pelo Maestro Mendanha². Porém até hoje não conseguimos atribuir um autor a letra.
A letra foi reproduzida no jornal O Povo em sua edição de 04 de Maio de 1839.
Nobre povo Rio-Grandense
Povo de heróis, povo bravo,
Conquistaste a Independência,
Nunca mais serás escravo.
Da gostosa liberdade
Brilha entre nós o clarão,
Da constância e da coragem
Eis aqui o galardão.
Avante ó povo brioso
Nunca mais retrogradar,
Porque atrás fica o inferno
Que vos há de sepultar.
Da gostosa liberdade…
O majestoso progresso
É preceito divinal;
Não tem melhor garantia
Nossa ordem social
Da gostosa liberdade…
O mundo que nos contempla,
Que pesa nossas ações,
Bendirá nossos esforços,
Cantará nossos brasões.
Da gostosa liberdade…³
Mesmo com toda a publicidade que ganhou na época, esta versão não se tornou o Hino definitivo. Isto porque Francisco Pinto da Fontoura, o “Chiquinho da Vovó”, compôs uma nova letra. Letra que por sua simplicidade acabou caindo no gosto do povo.
Outro fator importante para a fixação da poesia foi o fato de que O Poeta dos Farrapos4 viveu até o final do século retrasado, o que possibilitou a difusão de seu poema.
A letra como TODOS conhecem era a seguinte:
Como a aurora precursora,
Do farol da divindade,
Foi o Vinte de Setembro,
O precursor da Liberdade.
Estrib: Mostremos valor, constância,
Nesta ímpia e injusta guerra,
Sirvam nossas façanhas,
De modelo a toda a terra,
De modelo a toda a terra,
Sirvam nossas façanhas,
De modelo a toda a terra.
Entre nós reviva Atenas,
Para assombro dos tiranos,
Sejamos gregos na glória,
E na virtude romanos.
Estrib: Mostremos valor, constância…
Mas não basta pra ser livre,
Ser forte aguerrido e bravo,
Povo que não tem virtude,
Acaba por ser escravo.
Estrib: Mostremos valor, constância…
Até o ano de 1933 todos os Hinos eram considerados oficiais. Foi então que o Instituo Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, IHGRS, resolveu escolher de maneira definitiva uma letra.
Ficou decidido, em 1934, um ano antes do centenário da Revolução, que: Serafim Joaquim de Alencastre foi o primeiro autor; Francisco Pinto da Fontoura foi o autor mais popular; e o Hino de autor desconhecido recebeu o título de Hino em Homenagem a Batalha de Rio Pardo.
Em 14 de Julho de 1934, preparando as comemorações do Centenário Farroupilha, foi oficializado a poesia de Chiquinho da Vovó como Hino Oficial. Esta foi regulamentada pela lei 5213 de 05/01/1966, quando, por ordem do regime militar brasileiro foi suprimida a estrofe “Entre nós reviva Atenas…”
Mesmo passados quase 180 anos mantemos vivo nosso Hino, e cantamos a toda voz, pelos quatro cantos destes pagos: “Sirvam Nossas Façanhas de Modelo a Toda a Terra…”
Gabriel Tessis
@bagual35
Patrão do Piquete Grêmio do Prata
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1 – Transcrito do livro: A Epopéia Farroupilha – Walter Spalding-1963
2 – Lembremos que o Maestro Joaquim José de Mendanha foi aprisionado em 30 de Abril de 1838 após a tomada de Rio Pardo juntamente com sua banda.
3 – Transcrito do Jornal: O Povo-04/05/1839
4 – Alcunha como era conhecido Francisco Pinto da Fontoura