A imagem é emblemática: O capitão erguendo a taça com um rastro de sangue escorrendo pelo seu rosto, representando a raça e a entrega da equipe. Não existe algo que simbolize melhor a Copa Libertadores da América. O dia era 28 de julho de 1983, e mais de 70 mil testemunhas viram a consolidação de um dos maiores zagueiros da história do futebol sulamericano, o uruguaio Hugo De León. Um dos grandes líderes do vitorioso Grêmio do início dos anos 80 e um dos raros capitães a erguer a Taça Libertadores da América o troféu mais de uma vez, sendo, até então o único a executar o feito por dois clubes diferentes (voltaria a repetir o feito com o Nacional-URU em 1988).

Apesar de Hugo De León e seus comandados terem enfrentado uma verdadeira batalha na final de 1983, o “ferimento de guerra” não foi gerado em campo, mas sim por um prego existente na base interna do troféu e que acertou a testa do capitão tricolor quando o mesmo decidiu apoiá-lo em sua cabeça. Mas na verdade a razão do machucado é irrelevante diante da representatividade daquela cena.

Nascido em 27 de fevereiro de 1958 em Rivera, cidade do Uruguai que faz fronteira com o Rio Grande do Sul, Hugo Eduardo de León Rodríguez foi contratado pelo Grêmio em 1980, após uma temporada em que sagrou-se campeão Uruguaio e da Libertadores da América pelo Nacional-URU, além do simbólico título do Mundialito, competição organizada pela FIFA em comemoração aos 50 anos da Copa do Mundo de 1930 e vencida pela seleção Charrua em decisão contra a seleção canarinho do técnico Telê Santana que encantaria o mundo na Copa de 1982.

Uma curiosidade é que, durante a disputa do Mundialito, De León já tinha acertado a sua transferência para o Grêmio, o que fez com que, após a conquista da taça, desse a volta olímpica trajando o manto gremista, recebido durante as negociações com a equipe gaúcha.

Logo em seu primeiro ano no estádio Olímpico, Hugo De León foi a referência técnica da defesa do técnico Ênio Andrade na conquista do Campeonato Brasileiro de 1981, título que levou o clube gaúcho à disputa da sua primeira Libertadores da América. Mas a melhor fase da passagem do zagueiro uruguaio pelo Grêmio ainda estava por vir.

A campanha tricolor na Libertadores de 1982 não foi nada além de razoável. Com 5 pontos conquistados em 6 jogos, o Grêmio foi o 3º colocado em um grupo que contava ainda com o São Paulo e os uruguaios Defensor e Peñarol. Mesmo sem conquistar títulos na temporada, o vice-campeonato nacional credenciou o clube à disputa da Libertadores de 1983.

Com a transferência de Emerson Leão para o Corinthians, Hugo De León foi designado pelo jovem treinador Valdir Espinosa como novo capitão do time. Apesar da responsabilidade, De León foi um dos protagonistas daquela edição da competição continental, sendo fundamental à equipe tricolor tanto na fase de grupos quanto na decisão, em que o Grêmio enfrentaria o Peñarol, atual campeão continental e rival de De León nos tempos de Nacional.

Apesar de ter falhado no lance que possibilitou o gol da equipe uruguaia no jogo de ida, em Montevideo, o jogo de volta foi a verdadeira redenção do capitão tricolor, tanto pela atuação primorosa na defesa (com direito a tirar um gol adversário em cima da linha) quanto pela motivação e força aos companheiros após o gol de empate do Peñarol. Sem dúvidas, foi uma atuação digna de um campeão.

Após o jogo, veio a imagem simbólica: taça na mão e sangue escorrendo na testa. Posteriormente o zagueiro revelou ter atuado com a camisa do Nacional por baixo da camisa do Grêmio e, para cumprir uma promessa, raspou a barba, ficando apenas com o bigode.

O final do ano reservaria ainda mais ao capitão. Diferente do ocorrido em 1980, quando venceu a Libertadores com o Nacional mas não disputou o mundial interclubes, De León teve a oportunidade de disputar a competição contra o Hamburgo, clube alemão campeão da Liga dos Campeões da Europa após derrotar na final o forte time da Juventus-ITA que contava com nomes como Zoff, Platini e Paolo Rossi.

Com mais uma grande atuação, De León foi um dos grandes nomes da decisão que sagrou o Grêmio campeão mundial, e, mais uma vez, a maior conquista esportiva do clube seria erguida pelas mãos do capitão que marcava de vez seu nome na história tricolor.

O zagueiro ainda participou da campanha do vice-campeonato gremista na Libertadores de 1984, onde a equipe tricolor foi derrotada pelo Independiente-ARG na final da competição e da campanha que culminou na 3ª colocação no campeonato Brasileiro do mesmo ano.

Em 1996, Hugo de León foi escolhido pela direção do Grêmio como um dos atletas a gravarem seus pés na Calçada da Fama, espaço criado para homenagear atletas e personalizadas que se destacaram na história do clube.

 

Números de Hugo De León pelo Grêmio:

242 jogos | 127 vitórias | 71 empates | 44 derrotas | 11 gols marcados

 

PS: No ano de 2005 De León foi anunciado como treinador do Grêmio, mas os resultados ruins da equipe gremista acabaram por causar sua demissão. Após sua saída do clube gaúcho, decidiu pela aposentadoria também na função de técnico.

 

Leandro Webster

@leandrowebster

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